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Cine PE

Entrevista: Leandra Leal fala sobre homenagem no Recife e carreira na dramaturgia desde a infância

Atriz recebe, neste sábado (14), o Calunga de Ouro, entre os homenageados da 29ª edição

O retorno de Leandra Leal ao Recife para receber o Calunga de Ouro (prêmio concedido aos homenageados desta 29ª edição do Cine PE), neste sábado (14), no Teatro do Parque, é também uma volta à infância e ao primeiro destaque da atriz no cinema.

Em 1998, com apenas 14 anos, contracenando com ninguém menos que Lima Duarte, ela protagonizou o filme “A Ostra e o Vento”, de Walter Lima Jr., que viria a vencer o Calunga de Melhor Filme naquela segunda edição do festival e depois ser selecionado para representar o Brasil no Festival de Veneza. 

Leandra começou a atuar no teatro aos sete anos e na televisão aos oito, e construiu uma trajetória na teledramaturgia e no cinema. Também atuou como produtora e diretora em projetos como "Divinas Divas" e "Fico Te Devendo Uma Carta” e, recentemente, co-dirigiu e atuou na série “A Vida Pela Frente”, original da Globoplay. Confira a entrevista exclusiva da atriz à Folha de Pernambuco:

O que significa para você essa homenagem do Cine PE? 

Estou numa fase que choro à toa, estou achando muito bonito porque eu estou me guardando há um ano com meu filho. E, agora, depois desse festival, eu vou voltar direto para um set de filmagem. Está sendo muito bonito voltar a trabalhar a partir de uma homenagem. Eu tô achando isso tão mapa astral, sabe? Tipo, antes de de voltar, abrir esse novo ciclo, meio que olhar para tudo que eu já fiz e a partir daqui dar esse o de novo. Isso é muito maneiro.

E tem uma coisa muito bonita também que é a homenagem para o Julinho [Júlio Andrade] também, que eu acho um ator fantástico e que é um grande amigo, um grande parceiro. A gente começou a fazer cinema juntos em “O homem copiava”, então, acho muito maneiro assim ter essa homenagem dupla.

Qual a tua relação com Pernambuco?
Tenho amigos aí que são família para mim. Fui homenageada em Tiradentes, por exemplo, fiquei me sentindo muito feliz com isso, mas levei minha família para Tiradentes. Em Recife, eu quase não preciso levar ninguém também, porque eu já tenho uma família aí, de verdade, tenho amigos que são muito próximos e que são pessoas que fazem parte cotidianamente da minha vida. Meu primeiro marido [o cantor e compositor Lirinha] é de Pernambuco e eu fiquei com ele sete anos. Então, construí laços muito fortes que duram até hoje, de amigos e com ele mesmo, que é meu amigo. Então, realmente fico muito honrada de estar em Recife, nessa cidade. 

Como foi contracenar com o pernambucano Irandhir Santos no filme “Os Enforcados?

Sou fã dele. Além dele ser um uma pessoa que entrega um resultado muito camaleônico, muito profundo, muito verdadeiro. Acho ele e a figura dele, pela imagem que eu tinha, que era tipo: ‘cara, que pessoa interessante, sabe? Quero conhecer’. E aí quando o Fernando me chamou falando que era Irandhir, eu falei: "Cara, queria muito ter essa oportunidade!". E foi muito maneiro, a gente se deu super bem. Foi demais, fiquei muito feliz de ter contracenado com ele, dei um check na lista de desejos das pessoas que eu gostaria de trabalhar, sabe? É muito bonito ver ele em cena, o tempo, a entrega, o artesanal que ele faz… É lindo! Espero que esse filme chegue ao público, porque ele tem uma pegada que pode ser bem popular e vai ser muito maneiro estreá-lo no festival. 

Como você enxerga o atual momento do cinema brasileiro voltando a ser premiado pelo mundo?

É o cinema brasileiro e o cinema pernambucano, né? Porque Pernambuco é isso, um lugar muito fértil culturalmente. E é um estado que sempre produziu coisas muito inventivas, muito criativas, muito de vanguarda. E, ao mesmo tempo, sempre tem um lugar de se preocupar também com o que quer dizer, mas com um humor muito certeiro, muito ferino, que acho muito maneiro. Atualmente é o que está bombando lá fora e está levando a imagem do Brasil de uma forma muito consistente.

Começar a atuar muito cedo te fez também amadurecer precocemente?

Fez, com certeza. Trabalhar aos 13 anos, eu tinha uma responsabilidade grande. Era fazer uma protagonista de um filme como “A Ostra e o Vento”, que tem aquele enredo. Então, com certeza, me fez amadurecer mais cedo. Mas para mim foi muito positivo também, porque tive experiência de vida. Muito punk, jovem, acho que foi algo que eu já estava amadurecendo forçadamente com a perda do meu pai e tal. Então, o trabalho foi um amadurecimento, mas uma cura também, nesse sentido. Então, foi positivo. 

Você aborda com seus filhos a questão da possibilidade de seguirem uma carreira artística?

Não. É óbvio que eles vão ter uma herança de patrimônio. Tem a ver com isso, mas eu não acho que também herança quer dizer nada. Falo com a Júlia: "Júlia, você é livre, amor. Você pode vender, você pode fazer o que você quiser". [...] As pessoas têm que ter liberdade de ser quem elas são. Isso aí é a maior herança que um artista pode deixar para seu filho. Enquanto artista eu consigo experimentar ser quem eu sou. E é difícil você ser é. Então,é isso que eu quero que meus filhos sejam, quem eles são.

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