Chanceler iraniano sugere que Teerã abandonará negociações com os EUA sobre novo acordo nuclear
Em meio a ataques e retaliações de lado a lado entre Israel e Irã, Abbas Araghchi afirma que ação israelense 'nos forçou a abandonar o caminho diplomático'
O chanceler do Irã, Abbas Araghchi, sinalizou nesta sexta-feira que seu país pode abandonar as conversas indiretas com os EUA em torno de um possível novo acordo para o programa nuclear do país, após os ataques israelenses contra instalações atômicas, nucleares e contra áreas residenciais em solo iraniano, na quinta-feira.
Mesmo após os bombardeios, que eliminaram parte da liderança militar de Teerã, o governo do presidente americano, Donald Trump, ainda tentava publicamente forçar o Irã a se sentar à mesa no domingo, em Omã.
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Em conversa com o chanceler indiano, Subrahmanyam Jaishankar, Araghchi afirmou que "estávamos no caminho diplomático, realizando consultas com nossos colegas de Omã sobre a participação em uma nova rodada de negociações com representantes dos EUA", previstas para domingo, "mas a agressão do 'regime sionista' nos forçou a abandonar o caminho diplomático".
Mais cedo, a imprensa oficial de Omã, citando fontes diplomáticas, havia informado sobre a suspensão por tempo indeterminado da sexta rodada das conversas.
Além da fala de Araghchi, o Ministério das Relações Exteriores não emitiu uma posição definitiva sobre a presença nas conversas — na atual rodada e em reuniões futuras —, que mesmo antes dos ataques israelenses de quinta-feira estavam diante de imes difíceis de contornar.
Anunciadas com certa pompa por Trump, as conversas entre EUA e Irã têm como objetivo firmar um novo acordo que imponha limites às atividades nucleares iranianas, envoltas em acusação de terem finalidades civis e também militares, o que Teerã nega.
O acordo anterior, firmado em 2015 por um grupo de países, incluindo os EUA, estabelecia patamares reduzidos para o grau de enriquecimento de urânio e para o armazenamento do material enriquecido, e em troca algumas das sanções impostas aos iranianos seriam suspensas. Contudo, Trump abandonou o acordo em 2018 e impôs uma política dura de sanções, em vigor até hoje.
Na atual rodada de negociações, os EUA mantiveram a base do acordo de 2015, mas exigem compromissos mais amplos dos iranianos — recentemente, o governo Trump disse que não queria mais qualquer tipo de atividade de enriquecimento em solo iraniano, uma ideia vinda do premier israelense, Benjamin Netanyahu, além de uma retirada mais tímida das sanções, o que para o Irã equivale a uma capitulação.
Nos últimos dias, ao menos em público, Trump demonstrava certo receio com a possibilidade de um ataque israelense afetar as conversas, mas mesmo depois das bombas caírem ele pressionou Teerã a aceitar os termos.
"Há dois meses, dei ao Irã um ultimato de 60 dias para 'fechar um acordo'", escreveu o presidente em sua rede social, o Truth Social, se referindo a um ultimato feito em abril para pressionarTeerã. "Eles deveriam ter feito isso! Hoje (sexta-feira) é o 61º dia. Eu disse a eles o que fazer, mas eles simplesmente não conseguiram. Agora, talvez, tenham uma segunda chance!"