Complexo de Israel: delegado afirma que baleados estavam fora do perímetro de segurança
Secretário de Segurança Pública afirmou que a operação foi importante para "tirar do anonimato" diversos narcoterroristas
A Polícia Civil do Rio realizou, nesta terça-feira, uma megaoperação contra o Terceiro Comando Puro (T). Logo no início da manhã, a chegada dos agentes ao Complexo de Israel — formado por Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau — provocou intenso tiroteio na região.
A Avenida Brasil e a Linha Vermelha ficaram interditadas por cerca de uma hora por causa da ocorrência, mas, ainda assim, quatro pessoas foram baleadas. Duas delas estavam em ônibus que circulavam pelas vias. Segundo o delegado Carlos Oliveira, os feridos estavam fora da área delimitada pela operação. Ele afirmou ainda que o raio de bloqueio será ampliado em futuras ações para reforçar a proteção da população.
Durante entrevista coletiva, o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, e os delegados responsáveis pela investigação comentaram a demolição de duas construções usadas como bunkers — entre elas, uma falsa igreja erguida em ponto estratégico da comunidade. De lá, criminosos monitoravam e atiravam contra as forças de segurança.
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De acordo com o delegado Moyses Santana, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), as edificações tinham visão privilegiada da região — algumas com campo de visão de 360 graus — e escondiam armamento pesado.
— Foram localizados fuzis e munições de grosso calibre usados para disparos contra os agentes e helicópteros da polícia. A falsa igreja era, na verdade, um bunker camuflado — explicou Santana.
Segundo o delegado, por conta da resistência dos criminosos — que usam fuzis calibre .50 e .30, de uso antiaéreo —, os ataques a aeronaves da polícia aumentaram mais de 700% em cinco anos. Os danos aos veículos blindados cresceram mais de 800% no mesmo período.
As demolições só foram autorizadas após parecer da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), chefiada por Brenno Carnevale. O imóvel, no entanto, já era investigado desde 2023, mas apenas agora a Polícia obteve provas consideradas contundentes para justificar a intervenção, segundo Curi.
'Tirar do anonimato'
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que a operação desta terça-feira foi importante para “tirar do anonimato” diversos narcoterroristas. Os nomes dos alvos, no entanto, não foram divulgados.
— Quero parabenizar a corporação por essa operação, por tirar do anonimato pessoas que agiam sem mostrar o rosto. Mesmo que não tenhamos conseguido prender todos hoje, eles estão com mandados que serão cumpridos e acabarão presos. A polícia trouxe à tona quem são essas pessoas e qual é o papel delas na estrutura criminosa. A operação de hoje foi complexa, exigiu um planejamento detalhado — e isso foi feito com sucesso, especialmente com o objetivo de expor esses narcoterroristas — afirmou o secretário Victor Santos.
"Narcoterrorismo" e fechamento de vias
O secretário Felipe Curi destacou o nível de organização do grupo criminoso e justificou as medidas adotadas durante a operação:
— Estamos lidando com narcoterroristas. As medidas de contenção são necessárias. As duas pessoas atingidas estavam muito longe da área de atuação da polícia, em Duque de Caxias. A população precisa entender que estamos ali para protegê-la — declarou.
Curi informou ainda que a operação envolveu mais de 180 mandados de busca e apreensão e 44 de prisão. Segundo ele, os presos ocupavam posições estratégicas no tráfico.
Um dos detidos foi identificado como Luan Lucas França do Nascimento, militar do Batalhão de Guarda do Exército, capturado em Parada de Lucas. Ele seria integrante da facção comandada por Peixão.
— São criminosos diretamente ligados ao Peixão, responsáveis por organizar protestos contra a polícia, erguer barricadas e até planejar a derrubada de helicópteros das forças de segurança. Hoje, um deles foi preso com uma luneta usada para mirar as aeronaves — contou o secretário.
As investigações continuam, e a Polícia Civil apura agora a construção de um suposto resort clandestino dentro do Complexo de Israel, também atribuído ao grupo criminoso.
A ação desta terça-feira é resultado, segundo a Polícia Civil, de sete meses de investigações que culminaram na identificação de 44 traficantes sem mandados anteriores e que, agora, são alvos dos agentes. As apurações feitas pela DRE, com apoio da Delegacia Antissequestro (DAS), da 22ª DP (Penha) e da 33ª DP (Realengo), revelaram uma organização criminosa altamente estruturada e armada, sob a liderança de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, um dos traficantes mais perigosos do estado. O grupo atua nas comunidades de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau.
De acordo com as investigações, a facção impõe seu domínio com o uso de barricadas, drones para monitoramento das forças de segurança, toque de recolher e monopólio de serviços públicos, além de promover intolerância religiosa.
Quatro baleados
Um dos baleados foi identificado como Manoel Américo da Silva, de 60 anos, que estava em um ônibus que ava pela Avenida Brasil. Ele deu entrada no Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI) baleado no ombro esquerdo. "O paciente foi avaliado pelos médicos da ortopedia, cirurgia geral e cirurgia vascular, ou por exames e ficará em observação", diz trecho da nota. O estado de saúde é estável.
Já o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, recebeu os outros três baleados. Segundo informa a prefeitura, Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Saúde e da direção da unidade, Marcelo Silva Marques, de 54 anos, foi o primeiro a chegar, às 8h21, levado pelo Corpo de Bombeiros. Ele foi baleado no braço esquerdo, ou por exames de imagem e avaliação da equipe multidisciplinar. De acordo com o hospital, o paciente está lúcido, orientado e aguarda cirurgia no centro cirúrgico.
Pouco depois, às 8h52, Jerry Henrique Rodrigues das Chagas, de 47 anos, também foi atendido após ser atingido no pé esquerdo. Ele foi socorrido por uma equipe do Grupamento de Socorro de Emergência (GSE) dos Bombeiros. Já às 10h16, João André dos Santos, de 62 anos, deu entrada na unidade com ferimento no cotovelo esquerdo. Ambos também estão lúcidos e orientados.
A direção do HMAPN reforçou que não é possível afirmar os três pacientes têm relação com a operação policial realizada nesta manhã no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio.
Uma hora e vinte fechada
Por volta das 7h20 a situação começou a ser normalizada. De acordo com o Centro de Operações Rio (COR), a Avenida Brasil ficou bloqueada entre 6h e 7h20.
A Semove lamentou mais um episódio de violência e informou que os dois ônibus intermunicipais onde estavam as pessoas feridas são da empresa Evanil, sendo das linhas 442B e 405T. Outros dois coletivos foram atingidos por tiros ao arem pela Avenida Brasil e pela Linha Vermelha: um da Linave Transporte e outro da Transporte e Turismo Machado, das linhas 442B, 405T, 420T e 444L. O ônibus da Linave Transporte foi atingido por diversos tiros, tendo vidros quebrados e lataria perfurada.
A Semove afirmou que colabora com as autoridades de segurança em ações de prevenção e repressão e pede a ajuda de todos na identificação dos criminosos, solicitando que informações sejam encaminhadas ao Disque Denúncia (21 2253-1177).
Mais de 40 mandados de prisão
De acordo com a Polícia Civil, atuam no Complexo de Israel equipes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de delegacias da capital, da Baixada e do Interior. A ação visa a cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra integrantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (T).
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Sob o comando direto de Peixão, o T, afirma Polícia Civil, promove a "intimidação sistemática de moradores, expulsão de rivais, ataques a agentes de segurança e ações coordenadas para impedir operações policiais".
Núcleo para abater aeronaves policiais
Os investigadores identificaram um grupo responsável pelo monitoramento de viaturas, a queima de ônibus e a organização de protestos para, de acordo com a Polícia Civil, obstruir o trabalho das forças de segurança. Foi apurada, ainda, a existência de um núcleo especializado na tentativa de abate de aeronaves policiais, composto por criminosos com armamento pesado e treinamento específico.
Além das prisões, a operação tem o objetivo apreender armas de fogo, drogas, rádios comunicadores, aparelhos eletrônicos, documentos e outros materiais que reforcem a responsabilização penal dos envolvidos. Duas construções irregulares, que segundo a polícia são usadas pelos traficantes como abrigo e pontos estratégicos de ataque e equipadas com seteiras, serão demolidas, conforme autorização judicial.
Circulação de BRT, trens e ônibus afetada
Por causa da operação, as linhas 60 (Deodoro x Gentileza – Parador), 61 (Deodoro x Gentileza – Expresso) e 71 (Vigário Geral x Gentileza – Expresso) do corredor Transbrasil do BRT não circularam no início da manhã por determinação da Polícia Civil. A Mobi-Rio informou que, às 8h27, as três linhas tiveram os intervalos normalizados.
Segundo a SuperVia, por volta das 6h05, devido a forte tiroteio, a rede aérea foi atingida na região de Parada Lucas/Cordovil. Por causa disso, trens do ramal Saracuruna operam apenas no trecho entre Central do Brasil x Penha, com intervalo de 30 minutos. Há também circulação de trem no trecho entre Duque de Caxias x Gramacho, com intervalo de 20 minutos. A concessionária reforça que "a medida é necessária para segurança de todas" e informa que "técnicos da concessionária já foram acionados, mas aguardam para realizar os trabalhos necessários em função de tiroteio na região".
O Rio Ônibus informou que pelo menos 50 linhas tiveram seus itinerários prejudicados no início da manhã. Às 9h20, segundo o sindicato, apenas a linha 335 (Cordovil x Tiradentes) ainda tinha o itinerário desviados. Com a liberação da Avenida Brasil e da Linha Vermelha, as linhas que am na região voltaram a circular mas com intervalos irregulares.