Ex-ministro Braga Netto presta depoimento ao STF no processo da trama golpista
Já foram ouvidos outros sete réus: Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira
O ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Walter Braga Netto presta depoimento ao Supremo Tribunal Federal no processo da trama golpista.
Mais cedo, o também ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira afirmou em depoimento nesta terça-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tratou a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de forma "inadequada" durante reunião ministerial em julho de 2022. Ele se desculpou com o ministro Alexandre de Moraes, que conduz o interrogatório do processo da trama golpista.
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— Quero me desculpar publicamente por ter feito as declarações naquele dia. Eu não tinha nem 3 meses de Ministério da Defesa, vinha do Exército brasileiro. E coincide com essa reunião em que eu trato com palavras completamente inadequadas o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral. E mais ainda olhando para vossa excelência (Moraes), porque nós trabalhamos juntos nesse processo. Quando vi esse vídeo posteriormente, eu não acreditei — disse Nogueira. — A assunção de Vossa Excelência ao TSE facilitou a minha vida. Ponto. Eu cito o nosso teste de integridade com biometria.
Nogueira também afirmou que não tratou do relatório sobre as urnas eletrônicas com o ex-presidente Jair Bolsonaro, em direção oposta ao que Bolsonaro falou em depoimento.
— Eu já corrijo, até me perdoe, meu presidente Bolsonaro, quando ele disse, o próprio almirante Garnier hoje (também), que nós despachamos com ele esse relatório. Presidente (Moraes), eu não despachei esse relatório com ninguém — disse Nogueira.
O ex-ministro da Defesa afirmou ainda que, após uma reunião com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro, ele e o general Marco Antônio Freire Gomes, fizeram um "alerta" a Bolsonaro sobre a hipótese em "estudo" de decretar estado de defesa ou de sítio.
— Era um estudo e que ele (Bolsonaro) disse que voltaria oportunamente a tratar desse assunto. Pelo brigadeiro (Baptista Junior, então chefe da Aeronáutica) não estar na reunião, ela foi esvaziada. Depois que terminou a reunião, eu cheguei ao presidente, eu pessoalmente, eu acho que Freire Gomes estava do meu lado no mesmo dia, alertando, da seriedade, da gravidade, se ele tivesse pensando em estado de defesa, estado de sítio — disse Nogueira.
O ex-chefe da Defesa acrescentou que não discutiu qualquer possibilidade de ruptura.
— Eu nunca peguei minuta para tratar com comandante de Força, para corrigir, tem uns dados nesses depoimentos que não fecham de jeito nenhum. Eu nunca tratei de minuta com os meus três comandantes.
Depoimento de Bolsonaro
Mais cedo, o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes e outros integrantes da Corte por críticas feitas a ele em uma reunião ministerial em julho de 2022. O ex-mandatário está sendo ouvido nesta tarde na Corte no curso da ação que trata da trama golpista. Ele é um dos oito réus que vão prestar depoimento até sexta-feira e, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), é integrante do "núcleo crucial" da trama golpista.
Bolsonaro foi questionado por Moraes sobre declarações feitas em uma reunião ministerial a respeito dele e os ministros Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, também integrantes da Corte.
— Não tenho indício nenhum. Era uma reunião para não ser gravada. Então, me desculpe, não tive intenção de acusar de desvio de conduta contra os três — disse Bolsonaro.
Em outro momento, Bolsonaro disse que está se "policiando":
— Eu sempre carreguei no linguajar. Tento me controlar, tenho melhorado bastante meu vocabulário. Acho que com 70 anos é difícil mudar muita coisa... E peço desculpas se ofendi alguém
Bolsonaro também negou ter realizado qualquer ação ilegal e repetiu que não saiu das "quatro linhas da Constituição".
— Não me viram desrespeitar uma só decisão. Em nenhum momento eu agi contra a Constituição. Eu joguei dentro das quatro linhas o tempo todo. Muitas vezes me revoltava, falava palavrão,, sei disso. Mas, no meu entender, fiz aquilo que tinha que ser feito — afirmou Bolsonaro.
Entenda o caso
O interrogatório ocorre no âmbito da ação penal que avalia se Bolsonaro e outros sete réus, o chamado "núcleo crucial", planejaram um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula no fim de 2022. Eles são acusados dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.